Como assim? Vejamos com outros olhos!
A busca pela perfeição a que estamos acostumados na modernidade tem provado ser estressante. Tem sido a causa constante de doenças e desajustamentos decorrentes da ansiedade em alcançá-la!
A impossibilidade da perfeição gera conflitos internos e de socialização, quando o indivíduo se vê incapaz de ser como gostaria. Nesse ponto começa a se entregar às aflições do insucesso, acabando por desenvolver quadros depressivos. Muitas vezes essas situações resultam em finais desastrosos.
Seria possível evitar esse círculo vicioso? Existe uma filosofia japonesa que tem a resposta certa para resolver esta questão!
Simplicidade e imperfeição - Imagem Google |
O wabi-sabi é a apreciação estética do despojamento. Simboliza viver uma vida comum com a insuficiência ou com a imperfeição e está relacionado aos princípios de desapego do Zen budismo.
As raízes do Wabi-Sabi repousam no Zen Budismo, que foi trazido da China para o Japão por um monge do século XII. Zen enfatiza a austeridade, a comunhão com a natureza e, acima de tudo, reverencia o dia a dia como sendo o verdadeiro caminho para a iluminação.
Para alcançar a iluminação, os monges Zen levam uma vida ascética, frequentemente isolada e permanecem em meditação por longos períodos.
Bonsai - Imagem Google |
Wabi refere-se à harmonia, paz, tranquilidade e equilíbrio.
Sabi denota a beleza que se origina da progressão natural e inexorável que transforma e embeleza através do tempo e do uso.
Tal concepção estética é muitas vezes descrita como a do belo que é "imperfeito, impermanente e incompleto". Traduz a aspiração pela modéstia, simplicidade, austeridade e valorização da integridade de objetos e processos naturais.
Esses conceitos estão representados na produção artística através do assimétrico, do rústico, do imperfeito, do monocromático e do aspecto natural. Através do wabi-sabi é possível alcançar o vazio da mente que traz tranquilidade.
Tigela reconstituída por kintsugi - imagem Google |
Kintsugi ou "emenda de ouro" é uma arte japonesa de reparar cerâmicas quebradas com laca misturada com pó de ouro, prata ou platina.
Objetos laqueados são uma tradição de longa data no Japão. Desenvolvida por artesãos japoneses, essa técnica também foi utilizada em peças de cerâmica de outras origens como China, Vietnã e Coreia.
O kintsugi está associado à filosofia japonesa de wabi-sabi da aceitação do imperfeito ou defeituoso, abrangendo os conceitos de não-apego, aceitação da mudança e destino como aspectos da vida humana.
Pingente reconstituído por kintsugi - imagem Google |
Influências na arte moderna
O kintsugi é o conceito geral de destacar ou enfatizar imperfeições, visualizando remendos e costuras como um adicional ou uma área para celebrar ou se concentrar em vez de destacar a ausência ou partes faltantes. Artistas modernos experimentam com a técnica antiga como um meio de analisar a ideia da perda, da síntese e melhoria através da destruição e reparação ou renascimento.
Embora originalmente ignorado como uma forma de arte em separado, o kintsugi e métodos de reparação relacionados têm sido destaque em exposições na Galeria Freer no Smithsonian e no Metropolitan Museum of Art.
Se compararmos estes conceitos, que influenciam a sociedade japonesa como um todo, com nossa cultura ocidental, com valores e padrões que tendem a desprezar a beleza wabi-sabi da natureza humana, nos damos conta de quão artificiais são estes padrões.
Imagem Google |
Nos menosprezamos psicologicamente por não termos o emprego perfeito, o casamento perfeito, os filhos perfeitos, a aparência perfeita e a vida social perfeita. Nos desgastamos em busca dessa perfeição idealizada que, obviamente, não é acessível.
Que conclusão deriva de todas essas considerações?
Precisamos aprender a conviver com nossas imperfeições, sem nos cobrarmos resultados inalcançáveis. Todos temos defeitos e qualidades. Devemos procurar consertar os defeitos e desenvolver as qualidades.
O reconhecimento da beleza real de todas as coisas, a aceitação daquilo que não está em nossas mãos modificar e a compreensão do que podemos modificar e nos esforçarmos para fazê-lo, dentro de nossas possibilidades, deve ser a nossa meta de vida, o nosso kintsugi para alcançar o wabi-sabi.
O conceito wabi-sabi defende a singularidade do ser e a valorização de todas as etapas da vida, ressaltando tudo o que foi esculpido pela ação natural do tempo.
Portanto, a solução para fugir à busca do perfeccionismo estressante é praticar o wabi-sabi, pois a imperfeição é uma arte.
Abraço,
Angelyne